Arrumar o quarto atual da vida e deixar nele só o que é lindo.
Só o que é limpo. O que é esteticamente harmônico, bonito, agradável. Arrumar
esse cantinho microcosmo que é o nosso contemporâneo espaço de viver, de dormir
– dormir demais.
Ajeitar as cores dos quadros, das paredes, dos livros, num
súbito feng shui da alma. Eliminar o
que não orna, o que sobra, o que cansa a vista. O que dói o corpo, encobre as
janelas, consome o ar, a comida, e acima de tudo o que consome o tempo. Deixar
só o que é incrível e indubitavelmente belo, seguro, saudável, e acima de tudo
doméstica e pragmaticamente funcional.
É preciso eliminar os excessos decorativos, tudo o que é
supérfluo, fútil, desnecessariamente estimulante, alienante, viciante. Jogar
fora as drogas, restos de comida, fardos de roupa suja. É preciso higienizar os
objetos cortantes – talvez seja o caso de não haver objetos cortantes.
E então girar no centro desse quarto quase vazio, rodar
muito rápido, várias vezes, até que pelo menos na ilusão de um labirinto interno
haja algum movimento, uma queda, um medo, qualquer coisa que cure, que alivie,
que ajude a habitar essa insuportável assepsia que é de repente a Felicidade.
Um comentário:
Descobri seu blog hoje e me encantei com a poesia de sua escrita disfarçada em prosa.
Parabéns, menina.
José Roberto Porto
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