domingo, 25 de setembro de 2011

Acaso



É sábado, é noite, e todo o mundo percebeu isso, todos nos seus círculos sorridentes pelas calçadas, copo na mão e viradas de cabelo, hoje todas as moças estão infinitamente bonitas. Quero passar discreta mas a minha solidão é o que há de mais insólito nesses quarteirões.
Olho os lugares de sempre, vitrines de tantas pessoas felizes – escolha o sorriso que mais combina com você! –, atrás de um rosto conhecido, um rosto ao acaso, quero contar imensamente com o acaso porque já não sei como funcionam os encontros deliberados. Onde foram todos vocês que não estão em nenhum desses bares daqui, nem na agenda do celular, nem em lugar nenhum, quem são vocês que eu espero que o acaso me devolva nessa noite fria mas acabo aqui numa preguiça invencível dos desconhecidos.
Tanta gente que parece incrível e é melhor só imaginar porque de perto tudo tão igual, as pessoas não variam nem mesmo os defeitos, nem mesmo as bebidas, peço um whisky e bebo sozinha olhando de lado a rua [Augusta] na esperança de que esse gesto semimelancólico e blasé me traga de volta alguma literatura, ou pelo menos uma encrenca.
Solidão de poder estar em tantos lugares e querer só o lugar que não me pertence, de poder estar em tantas mesas e não suportar nenhuma, de poder ligar para tantos nomes e não escolher nenhum, de buscar socorro no acaso e perceber que a noite não tem nada de cinema, nada de perfeito, inusitado, romântico. Perceber que nunca nada de impressionante vai acontecer.
Desistir do acaso e buscar socorro em algo que um dia já foi certo e perceber que não adianta, que nada mais faz o menor sentido.
É o que temos para hoje.