Ando pensando que pode ser que tenha alguém apaixonado por mim que eu nem desconfie. Pode ser que todo o mundo tenha, e pode ser que seja muito bom pensar o tempo todo que tem alguém perdidamente apaixonado por nós.
Pode ser uma delícia imaginar essa pessoa encostadinha num sofá da festa e a gente dança cigana-odalisticamente sem sapato e com os cabelos desvairados de admiração. Decidi que definitivamente existe uma pessoa apaixonada por mim, que me busca nos corredores, nas salas, bares, publicações, computadores.
Vou começar a andar mais altiva, meus passos tão desengonçados e pragmáticos vão se alimentar dessa elegância de passarela, desses olhinhos encantados me observando as coxas, os ritmos. Vou lembrar esses ouvidos ocultos nas rodinhas me auscultando o coração, os segredos, piadas. Vou começar a falar só de coisas interessantes, vou contar bem alto minhas taras, pesadelos, filmes.
Quero que esse meu admirador tenha certa fobia afetiva, que me diga bom-dias insignificantes que não me despertem a menor suspeita. Que tenha dificuldade de dizer os sentimentos, de fazer amigos, e que seja paradoxalmente incapaz de um crime passional. Quero que leia esse texto com o coração rufando debaixo da língua, como se a cada frase eu chegasse mais perto de desmascará-lo.
Quero que você me espere numa cadeira de praia na Augusta numa noite de quinta lendo um livro de ponta-cabeça. Se for mulher, quero que esteja de vestido roxo, óculos e alguma coisa maluca no cabelo. Quando eu vir você, quero que saia correndo. Quero que me espere no meu ponto de ônibus vestido de coelho da Alice, e quando eu chegar quero que diga que é tarde, muito tarde, e desapareça num desses becos. Eu nunca tenho coragem de entrar.
Depois quero que você esteja presente em todos os meus sucessos, puxe as palmas, acabe com a ansiedade desses meus aniversários que invariavelmente antevejo vazios e tediosos. E também nos meus fracassos vou saber que você está lá, e sua admiração inabalável vai me reconfortar. E vou sentir qualquer coisa de bonito num perfil triste que vou lançar ao léu, na esperança de que você registre o meu charme numa imagem precisa que vai fenecer brumosa no seu sono inquieto.
E quando eu morrer tragicamente deixando família e amigos completamente traumatizados, você vai se doer e contorcer até flutuar por sobre os meus espaços. Por um tempo, você vai fazer esse amor fiel colorir a melancolia das muitas saudades que eu deixei. Depois, vai sumir aos poucos, tons pastéis, até morrer por completo; irremediavelmente parte de mim.
Pode ser uma delícia imaginar essa pessoa encostadinha num sofá da festa e a gente dança cigana-odalisticamente sem sapato e com os cabelos desvairados de admiração. Decidi que definitivamente existe uma pessoa apaixonada por mim, que me busca nos corredores, nas salas, bares, publicações, computadores.
Vou começar a andar mais altiva, meus passos tão desengonçados e pragmáticos vão se alimentar dessa elegância de passarela, desses olhinhos encantados me observando as coxas, os ritmos. Vou lembrar esses ouvidos ocultos nas rodinhas me auscultando o coração, os segredos, piadas. Vou começar a falar só de coisas interessantes, vou contar bem alto minhas taras, pesadelos, filmes.
Quero que esse meu admirador tenha certa fobia afetiva, que me diga bom-dias insignificantes que não me despertem a menor suspeita. Que tenha dificuldade de dizer os sentimentos, de fazer amigos, e que seja paradoxalmente incapaz de um crime passional. Quero que leia esse texto com o coração rufando debaixo da língua, como se a cada frase eu chegasse mais perto de desmascará-lo.
Quero que você me espere numa cadeira de praia na Augusta numa noite de quinta lendo um livro de ponta-cabeça. Se for mulher, quero que esteja de vestido roxo, óculos e alguma coisa maluca no cabelo. Quando eu vir você, quero que saia correndo. Quero que me espere no meu ponto de ônibus vestido de coelho da Alice, e quando eu chegar quero que diga que é tarde, muito tarde, e desapareça num desses becos. Eu nunca tenho coragem de entrar.
Depois quero que você esteja presente em todos os meus sucessos, puxe as palmas, acabe com a ansiedade desses meus aniversários que invariavelmente antevejo vazios e tediosos. E também nos meus fracassos vou saber que você está lá, e sua admiração inabalável vai me reconfortar. E vou sentir qualquer coisa de bonito num perfil triste que vou lançar ao léu, na esperança de que você registre o meu charme numa imagem precisa que vai fenecer brumosa no seu sono inquieto.
E quando eu morrer tragicamente deixando família e amigos completamente traumatizados, você vai se doer e contorcer até flutuar por sobre os meus espaços. Por um tempo, você vai fazer esse amor fiel colorir a melancolia das muitas saudades que eu deixei. Depois, vai sumir aos poucos, tons pastéis, até morrer por completo; irremediavelmente parte de mim.
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