sábado, 27 de julho de 2013

Inverno Pessoal




De repente aparece um sol e é como se eu descongelasse devagar, e descongelar dói muito, os dedos, os pés, até a barriga num formigamento, chego a pensar se eu quero, se eu consigo mesmo esquentar, voltar, aceitar esse sol e a vontade – e a obrigação – de movimento que ele traz.
Meu inverno pessoal que me acomete de muitos em muitos anos, feito uma Copa, um Cometa, e me paralisa. Vou ficando opaca, sozinha por todos os lados e até mesmo por dentro, um inverno que me leva de mim e quando devolve é nesse sol lento e ainda gelado e eu demoro a saber que estou de fato de volta, e por um tempo ainda vou achar que não estou.
A paisagem já não é a mesma e aqueles tantos projetos que eu talvez chamasse de sonhos sem saber que projetos são sonhos muito mais maduros, eles todos sumiram, não adianta descongelar que eles já buscaram abrigo nas mentes que estavam prontas e firmes.
Eu perdi. E perdi pior do que perder dos outros – todos os dias sabemos que há outros tão melhores –, eu perdi de mim mesma, para o inderrogável espectro de mim, de um passado cheio de um futuro quase glorioso.
E não importa o quanto eu corra e grite e ferva debaixo desse sol que volta tarde demais eu mesma já me derrotei nesse longo inverno pessoal e o que quer que possa brotar dessa devastação não parece vir de mim, nem parece quente, nem parece vivo. O que eu faço agora debaixo desse novo sol é um simulacro ainda frio de um tempo morto.