De repente aparece um sol e é
como se eu descongelasse devagar, e descongelar dói muito, os dedos, os pés,
até a barriga num formigamento, chego a pensar se eu quero, se eu consigo mesmo
esquentar, voltar, aceitar esse sol e a vontade – e a obrigação – de movimento
que ele traz.
Meu inverno pessoal que me
acomete de muitos em muitos anos, feito uma Copa, um Cometa, e me paralisa. Vou
ficando opaca, sozinha por todos os lados e até mesmo por dentro, um inverno
que me leva de mim e quando devolve é nesse sol lento e ainda gelado e eu
demoro a saber que estou de fato de volta, e por um tempo ainda vou achar que
não estou.
A paisagem já não é a mesma
e aqueles tantos projetos que eu talvez chamasse de sonhos sem saber que projetos são sonhos muito mais maduros,
eles todos sumiram, não adianta descongelar que eles já buscaram abrigo nas
mentes que estavam prontas e firmes.
Eu perdi. E perdi pior do que
perder dos outros – todos os dias sabemos que há outros tão melhores –, eu
perdi de mim mesma, para o inderrogável espectro de mim, de um passado cheio de
um futuro quase glorioso.
E não importa o quanto eu corra e
grite e ferva debaixo desse sol que volta tarde demais eu mesma já me derrotei
nesse longo inverno pessoal e o que quer que possa brotar dessa devastação não
parece vir de mim, nem parece quente, nem parece vivo. O que eu faço agora
debaixo desse novo sol é um simulacro ainda frio de um tempo morto.
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