Esticar o sábado nas suas saias de lycra até a barra cobrir os joelhos vacilantes de uísque e salto alto. Esticar o sábado até as pontas cobrirem o sol dessas manhãs tão precoces de domingo.
Prolongar a noite em infinitos copos gelados, amolecer o sorriso doído que lateja duvidoso nos lábios, um sorriso torcido, cada vez mais consciente de tudo que ficou lá fora, a lycra fina do sábado que não esconde nada. É preciso explorar o sábado até onde ele puder agüentar, até que não haja mais ninguém em volta, até que o novo desconhecido adormeça barulhento, a respiração de gim-cigarro-e-halls-preto e nem mais o sorriso doído resista às frestas explícitas do mormaço matinal na janela.
Desidratar a cabeça até que não sobre espaço para o fluido ruidoso da semana pesando em bolhas por trás dos olhos: estragar, sabotar, arruinar, condenar o domingo à sua natural impossibilidade. Dedicar a noite ao absurdo, deixá-la entorpecer os músculos, umedecer as pernas no vazio pulsante da saia. Esticar a saia e o sábado até cobrir o dia, descobrir alguém que faça cinco minutos de diferença.
Destruir o domingo até que não caibam as antecipações da segunda-feira, a solidão inacreditável da segunda-feira. Passar o domingo com os olhos inchados, grudados, fechados: não abrir os olhos até o próximo sábado. Não abrir os olhos porque durante todos os dias não há quase ninguém que se queira ver na luz fosforescente dos ofícios.
Prolongar o sábado no colorido piscante nos sorrisos tão conscientes das horas passando no frio da rua. Sair pra fumar e perceber o amarelado das nuvens denunciando o domingo, massacrar o domingo numa carona semiperigosa pruma casa estranha. Esticar o sábado até que já não haja domingo, até que já não haja semana, até que já não haja.