quinta-feira, 4 de março de 2010
minhas horas
Minhas horas uma cachoeira portentosa nos meus ombros, véu de noiva desvairada erodindo os meus barrancos
Minhas horas me levando a pele me afrouxando as ancas e vergando os ossos
Minhas horas tão meninas que não me escutam
Tão lindas que já nem minhas
minhas horas me girando confusa: eu um turbilhão de potencial inaplicável
minhas horas sumindo na vingança brutal dos sonhos traídos
comprar mais horas, instalá-las bem no fim do dia
horas em claro
horas a fio
as horas
nuas
o Chapeleiro Maluco já disse que é preciso ser amigo do tempo
e ele obedece
ele respeita
quero guardar as horas numa piscina quente e boiar tranqüila
contê-las num balão bem lento
com toda a minha gente dentro
costurá-las num vestido roxo-ocasiões-especiais
-- nada dessas horas danadas me mordiscando os pés enquanto derreto no ônibus ou passo o fio dental –
Preservá-las em 200 caixinhas de música
Pandoras preciosas do meu tempo
Que a cada espiadela me enchem de vida
Mas deixam espalhar qualquer coisa assombrosa
Qualquer coisa vazia
Até que eu corra pelo quarto abrindo todas
-- vazio –
Bailarinas girando
--minhas horas –
e de repente uma caixinha vai ter só um velho espelhinho escurecido.
Meu olho esquerdo ao fundo e uma última e solitária hora que me escapa.
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