domingo, 3 de janeiro de 2010

Texto do Reveillon do ano passado



2009 – O que não quero em 2059

Em 2059 não quero uma neta
distante
há duas gerações de anos luz de mim
desfilando novos dilemas mesquinhos
novas tendências da moda música política
computadores biônicos
tridimensionais
Não quero visitas
Caridade
Filhos ocupados mas diligentes
Evitando tabus
-- porque velhos são cheios de tabus
Mesmo eu –
Novos tabus
das novas tendências
que eu não vou entender
Não quero os jovens
achando que sabem qualquer coisa
que eu não sei
não lembro
ou nunca vi
Eu que sei coisas
Que nem em 2059 os meus netos vão saber
Eu que em 2009 penso que sei bem mais que os meus avós
Em 2059 não vou querer que me respeitem
Que me poupem
Dos novos assuntos
cabeludos
me desligando pouco a pouco do que há de bom
Em 2059 vou passar o ano novo pelada
em cima de alguma mesinha de centro cafona
rugas nos seios barriga bunda sexo
-- muitas e muitas rugas no sexo--
serei um disparate uma barbaridade um vexame
Vou devorar a vida o tempo as festas do colégio da minha filha
--vai ser tão bonita, a minha filha --

Cinqüenta anos em mim serão cinqüenta anos a menos no mundo.

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