Pensei no celular, com a bateria quase acabando. Mas pensei de um jeito diferente, de um jeito literário. Quando um pensamento vem de um jeito literário ele vem gostoso, vertiginoso, a imagem se forma de repente num canto diferente do cérebro e eu fico com medo de que ela suma sem que eu tenha tempo de ver tudo, mas também não posso olhar demais se não a nitidez estraga todo o prazer sombrio de alguma coisa que promete ser mais do que está sendo. Pensei na bateria que talvez fosse o motivo de eu estar voltando pra casa, os dois ou três dias de duração da bateria são a medida das minhas idas e vindas.
Pensei na minha mãe, querendo saber se hoje eu vinha dormir, se amanhã, se ontem, e pensei em mim pensando que devia ir pra casa senão ficaria sem celular todo o feriado. E essa idéia da mãe que sabe que a filha volta quando acaba a bateria flutuou cor pastel no fundo da cabeça e eu decidi que encaixaria no próximo Exercício, talvez ainda hoje.
A Mila costumava perceber quando o pensamento vinha literário na minha cabeça, qualquer coisa no meu olho que se perdia e um frio na barriga e talvez porque nela também viesse o pensamento ela fungava feito um cão farejando o ar e brincava que sentia cheiro de continho em volta de nós. Minhas melhores vertigens são quando a Mila de repente vira um pensamento literário no fundo da minha mente e eu tenho pouco tempo pra chegar em casa e digitar a Mila embaçada atrás da cabeça, na fumaça do cigarro.
Mas depois pensei que é que nem fazer cocô. Se me vem a inspiração não posso demorar, não posso pensar muito nisso, tenho de ir até o banheiro fingindo pra mim que não sei de nada, que nada está acontecendo. Vou chegando e me convencendo de que vai ficar tudo bem se não der certo, outra hora quem sabe, não foi dessa vez. Mas na verdade eu sei que fico carregando pesado no corpo todos os cocôs e todos os textos que não deram certo.
Vou me aproximando e a idéia que eu fingia pra mim que não existia e ao mesmo tempo não podia deixar sumir no túnel escuro infinito de mim pode dar certo e pode não dar. Meu pai diz que eu escrevo que nem ele faz cocô. Mas, pra mim, fazer cocô é incrivelmente difícil.
Pensei na minha mãe, querendo saber se hoje eu vinha dormir, se amanhã, se ontem, e pensei em mim pensando que devia ir pra casa senão ficaria sem celular todo o feriado. E essa idéia da mãe que sabe que a filha volta quando acaba a bateria flutuou cor pastel no fundo da cabeça e eu decidi que encaixaria no próximo Exercício, talvez ainda hoje.
A Mila costumava perceber quando o pensamento vinha literário na minha cabeça, qualquer coisa no meu olho que se perdia e um frio na barriga e talvez porque nela também viesse o pensamento ela fungava feito um cão farejando o ar e brincava que sentia cheiro de continho em volta de nós. Minhas melhores vertigens são quando a Mila de repente vira um pensamento literário no fundo da minha mente e eu tenho pouco tempo pra chegar em casa e digitar a Mila embaçada atrás da cabeça, na fumaça do cigarro.
Mas depois pensei que é que nem fazer cocô. Se me vem a inspiração não posso demorar, não posso pensar muito nisso, tenho de ir até o banheiro fingindo pra mim que não sei de nada, que nada está acontecendo. Vou chegando e me convencendo de que vai ficar tudo bem se não der certo, outra hora quem sabe, não foi dessa vez. Mas na verdade eu sei que fico carregando pesado no corpo todos os cocôs e todos os textos que não deram certo.
Vou me aproximando e a idéia que eu fingia pra mim que não existia e ao mesmo tempo não podia deixar sumir no túnel escuro infinito de mim pode dar certo e pode não dar. Meu pai diz que eu escrevo que nem ele faz cocô. Mas, pra mim, fazer cocô é incrivelmente difícil.
Um comentário:
me deixou sem palavras...
isso quer dizer que se eu te comprar um carrgador você não precisa mmais ir embora e talvez até aprenda a fazer cocô na minha casa?
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