que nem quando uma coisa nossa
um batom, um telefone, um frasco,
cai no chão:
é preciso abaixar e apanhar a coisa
é preciso abaixar e apanhar a coisa
e elevá-la devagar
apenas um ou dois palmos do chão
e então nos mantemos assim curvados
vergados sobre a coisa
a examinar eventuais rachaduras
como se um milagre viesse da nossa reverência
em volta todos passam
trombam nosso quadril dobrado
a lombar em deferência cerimonial
mas é preciso que a coisa permaneça ali
entre a queda e o salvamento
suspensa
até que se tenha certeza de que tudo ainda é como antes
como se a velocidade do resgate
fosse mais perigosa que a queda
ou, senão
como se, após breve exame do estrago,
fôssemos abandoná-la de volta ao chão.