Sou a minha oscilação exaustiva de hormônios
Sou o gráfico trágico da minha comunicação ovariana,
a resposta depressiva do meu útero vazio.
Sou os meus cistos gigantes,
sou o estouro ardido desses meus líquidos indevidos,
o retorcer doído de um sistema inábil.
Sou o fraquejar esquisito de uma coluna angulosa,
sou curvilínea.
Sou a dor perene na contração dos músculos,
na constipação do ventre,
no pulsar insistente das paredes da cabeça.
Sou a minha irritação pré-menstrual,
meu desamparo,
meu inchaço dolorido.
Sou o meu acúmulo nos quadris,
minhas varizes,
minhas estrias se esticando brancas
na minha existência imensa:
sou minhas trombadas nas portas,
nos bancos dos ônibus,
minhas cabeçadas nesses tetos baixos,
nessas escolhas fatais.
Sou minha fome excessiva,
minha dependência.
Sou minha cesárea às pressas
Meus cortes, rasgos, costuras
o-s-t-e-o-p-o-r-o-s-e
Sou a minha menopausa ardilosa,
que me tolhe os anseios
e me murcha a boca.
Sou meus calores sufocantes
Sou minha transpiração humilhante sobre o rímel preto,
minha insônia incansável:
sou meus olhos secos abertos no tictac insistente dessas noites quentes
Frias
Quentes
Sou a minha oscilação exaustiva de hormônios
Sou o gráfico íngreme da minha comunicação ovariana,
a resposta depressiva do meu útero vazio.
E escondo tudo num preto básico
Em taças de vinho
Em bases, corretivos, colares
Em saltos altos firmes
Em saltos.
E assim, no espelho do elevador,
No corredor, celular, casamento, hospital, enterro, restaurante, escritório, mercado, creche, motel, bar, livraria, avenida, fórum, ônibus, maternidade, eventos, consultas, teatros,
nos faróis
Sou um aceno breve
Sou tudo-bem-e-você.